domingo, agosto 12, 2007

A Espera


às sombras de arbustos e abetos, teço, silenciosa, esta renda em segredo, para cobrir o homem que é meu. ao descosturar minha pele, o sol vai aos poucos enrubescendo em sua postura horizonte oeste, findando e levando consigo minha costura. mas ainda é cedo e a relva verdeja-se numa imposição resoluta, como se o sol impedisse de se pôr, à inveja sentida de tamanha beleza que é o pôr-do-sol. o azul do firmamento festeja a passagem dele, que esperará por mim enquanto teço seus bordados e recamos. seja como for: belo ou não, meu cavalheiro, gentil e assaz devoto de sua dama, a que costura fielmente os pontos de sua vida. e meus olhos então perdem-se neste buquê colhido ao campo, na esperança de que de outras mãos me viessem. quando chegar o fim da tarde, serei carregada ao colo deste que não existe, mas por quem, com todo amor, teço esta bela costura, que irá, de uma forma ou outra, cobrir meu sonho...

2 Comments:

Blogger Arthur Nogueira said...

é incrível como teu texto está em sintonia perfeita com a imagem... lindo, marcelo. belo, sensível e bem escrito.

5:12 PM  
Blogger Arthur Nogueira said...

BALANÇO. "A infância não foi uma manhã de sol: demorou vários séculos; e era pífia, em geral, a companhia./ Foi melhor, em parte, a adolescência, pela delícia do pressentimento da felicidade na malícia, na molícia, na poesia,
no orgasmo; e pelos livros e amizades./ Um dia, apaixonado, encarei a minha morte: e eis que ela não sustentou o olhar e se esvaiu./ Desde então é a morte alheia que me abate./ Tarde aprendi a gozar a juventude, e já me ronda a suspeita de que jamais serei plenamente adulto:antes de sê-lo, serei velho./ Que ao menos os deuses façam felizes e maduros Marcelo e um ou dois dos meus futuros versos..." Mais uma vez seu nome num belo poema de A. Cícero.

3:06 PM  

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